terça-feira, 14 de agosto de 2012

O mistério do chiclete desaparecido

Por Leda Chaves

Naquele dia, Margarida saiu do trabalho animada pois era dia da aula de dança e também dia de comer bolo de cenoura no Café com os Anjos. Como tinha se atrasado naquela segunda-feira, em vez de sair às 17:00 esticou até às 18:00 para compensar o atraso matinal. Quando saiu pegou um táxi-lotação para chegar até a Praça Tiradentes. O taxista daquele dia era ótimo, bem humorado e muito educado. Ai que bom que era, quando ela podia ficar perto de pessoas bem-humoradas!

Margarida desceu a av. Afonso Pena pensando se ainda ia encontrar um pedaço de bolo pois já estava tarde. O táxi parou num lugar ótimo e a Margarida saltou lépida e fagueira e seguiu em direção ao tão sonhado bolo de cenoura. E qual não foi a sua surpresa quando chegou lá e encontrou um bolo novinho quase intacto esperando por ela. Olhou para aquela guloseima cheia de alegria. Pediu um pedaço e o costumeiro café expresso sem açúcar. Acomodou-se em uma mesa mais ao fundo e sentou-se de frente para a porta da lanchonete para poder apreciar o movimento do final de tarde.

Eles serviam sempre um pedaço bem generoso, com bastante calda de chocolate. “Hummm... que delícia!” pensou a Margarida quando olhou para o bolo que a garçonete tinha acabado de por à sua frente junto com o café. Então, desfrutou de cada pedaço enquanto pensava em como era agradável aquela lugar. Que delícia era poder se sentar ali e ficar observando a noite cair enquanto os carros se acumulavam quando o sinal da avenida Brasil ficava vermelho. Ela adorava aqueles momentos que passava ali, sonhando com a sua viagem. Sempre que a Margarida ia ali, ficava inspirada e acabava escrevendo alguma coisa. Ora escrevia uma poesia, ora escrevia um pequeno artigo. Era um espaço de tempo quase sublime de criação, quando a Margarida refugiava-se dentro de si mesma e ficava bem quietinha desfrutando daquele momento só seu.

Bolo de cenoura com calda de chocolate

Porém, nesse dia, Margarida não escreveu nada. Comeu o bolo, tomou o café e foi ao caixa pagar a conta. Sempre comprava um chiclete já que depois ia pra aula de dança e não queria ficar com os dentes sujos. Margarida adorava o chiclete de caixinha cinza, sabor melancia com limão. Era bom, refrescava o hálito.

Saiu da lanchonete mastigando o chiclete e seguiu em direção à academia onde teria aula de samba de gafieira. Procurava sempre andar elegantemente e quando chegava a hora de atravessar a avenida Afonso Pena, passava em frente aos faróis dos carros como se estivesse numa passarela desfilando e chegava do outro lado gloriosa. Margarida se deliciava com todo aquele espetáculo em que a cidade se transformava no entardecer. Continuou o seu caminho até a academia que ficava ali bem pertinho na esquina da rua Gonçalves Dias com rua Pernambuco.

Margarida adorava o samba e adorava também o pessoal da academia. Eram todos muito acolhedores e alegres. Que delícia que era ter aulas ali!

Chegou mais cedo como de costume. Eram 18:30 ainda e a sua aula começava às 19:30. Margarida ficava ali, na varanda, e, enquanto aguardava, conversava animadamente com outras colegas que também estavam esperando. Ainda estava mastigando o tal chiclete. Quando o chiclete perdeu totalmente o sabor, Margarida caminhou em direção à lixeira para jogá-lo fora. Quando já estava próxima da lixeira, levou a mão à boca e tirou o chiclete. E não foi que exatamente naquele instante, o Rodrigão, um dos monitores da escola, passou rente por ela e com o susto o chiclete caiu. Ela parou imediatamente para não correr o risco de pisar no chiclete. Olhou em volta e nada. Deu um passo ao lado. Nada de ver o chiclete. Olhou em sua roupa pra ver se o chiclete tinha ficado grudado e nada. “Gente, cadê o chiclete??? Alguém está vendo o chiclete?” Olhou de novo no chão. Abaixou-se para ver melhor porque estava um pouco escuro. O chiclete tinha sumido. Então a Margarida pensou: “Já sei, grudou no pé do Rodrigão ou então em sua roupa! Ihhh!!!” Olhou pra dentro do salão onde o Rodrigão estava e ficou olhando de longe pra ver se via o chiclete. Tanto olhou que uma das professoras, a Najela, perguntou: “Mas o que é que você está procurando?” Aí a Margarida exclamou: “Estou tentando resolver o mistério do chiclete desaparecido!” Então, a Najela também começou a olhar para o Rodrigão que acabou ficando incomodado. Ele olhou para as duas com uma cara de interrogação e perguntou lá de longe qual era o problema. A professora pediu pra ele dar uma voltinha para poder olhar se o chiclete estava grudado nele e nada de ver o chiclete. Parecia que o chiclete tinha sublimado feito naftalina. E a Margarida encucada e sentindo uma culpa horrível pensou: “Gente, onde é que esse chiclete foi parar?” Aí olhou novamente para a própria roupa e pediu às colegas para olharem e ninguém via nada. Era um mistério.

Olhou novamente todo o piso da varanda para ver se o chiclete tinha ido parar em algum lugar. Ela não queria que ninguém pisasse acidentalmente no chiclete. Então, depois de muito procurar desistiu e foi conversar com a Tati que tinha acabado de chegar. As duas ficaram debruçadas no guarda-corpo da varanda conversando sobre as fotos da apresentação do samba que tinham feito em dezembro e sobre o ensaio fotográfico com o traje da dança que tinham feito no dia seguinte à apresentação. Margarida contava animadamente como tinha desfrutado de tudo com muita alegria e de como estava feliz em ver que as fotos tinham ficado ótimas. Aí, lá pelas tantas, Margarida ergueu o seu braço direito gesticulando e viu o chiclete! “Gente, o chiclete apareceu!!!” exclamou aliviada.

Pois é, o danado estava grudado na pulseira, do lado de fora do braço de maneira que a Margarida não via porque toda vez que olhava pra si mesma atrás do chiclete levantava os braços para ver melhor a roupa.

“Ufa até que enfim o chiclete apareceu!” suspirou duplamente aliviada porque o chiclete não tinha grudado nem na sua roupa e nem na roupa do Rodrigão. Pegou o aventureiro chiclete mastigado e jogou no lixo. Acenou pra Najela avisando que o mistério tinha sido finalmente desvendado. A Najela riu e avisou que a aula já ia começar.

E lá foi a Margarida para o salão viver mais um momento feliz de sua vida...

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